Zumbiverso

Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

3 participantes

    [Conto] A Promessa

    Keppler
    Keppler
    Admin
    Admin


    Mensagens : 63
    Reputação : 1
    Data de inscrição : 13/12/2012
    Idade : 26

    [Conto] A Promessa Empty [Conto] A Promessa

    Mensagem por Keppler 19/12/12, 08:15 pm

    O céu estava escuro quando aquele homem abriu seus olhos doloridos, era a primeira vez em sua vida que ele sentia uma dor tão profunda quanto aquela. Começava em sua cabeça e avançava por todo seu corpo, chegando até a ponta de seus pés. Haviam diversos cortes de facas em seus braços e peito, mas, o que mais doía era sua cabeça, sentia como se uma pancada fosse dada em seu crânio e estende-se para até seu cérebro. O estômago doía, mas, não era tão ruim, estava com fome.

    Uma tempestade aproximava-se e logo ele levantou-se, lenta e vagarosamente, não temendo qualquer problema, alheio ao mundo. Sua perna direita não se mexia normalmente, ele mandava ela se mexer e demoravam segundos para que ela se movesse, mas, sua perna esquerda movia-se normalmente. As roupas estavam rasgadas em algumas partes e um de seus sapatos havia sumido, teria ele sido roubado e violentado?

    Bastou levantar-se e logo começou a chover. Algumas pessoas aproximavam-se devagar, infelizmente elas mancavam e pareciam estar próximas de mortas.

    - Guaak! - foi isso que ele conseguiu emitir ao tentar chamar os caminhantes.

    Seus pensamentos estavam cada vez mais lentos, não conseguia pensar direito, sua coordenação motora estava ficando mais retardada e sua visão ficando embaçada. Aos poucos o barulho da chuva e dos raios foram diminuindo até chegarem ao completo silêncio, a audição dele havia se deteriorado, estava quase surdo. As pessoas que antes caminhavam sem rumo aparente agora vinham aos montes para cima dele, mas, não agressivamente, pareciam estar querendo juntar-se a ele.

    Urros e grunhidos eram audíveis da distância em que ele estava, se tivesse ouvido poderia ter tentado fugir deles, mas, não o fez, não ouvira nada. A multidão ia aos poucos aumentando até que um deles caiu no chão, um jato de sangue espirrou da cabeça dele e um flash de luz e fogo apareceram em sua visão periférica. Seus instintos o mandaram seguir a luz, descobrir o que era e tentar descobrir o que estava acontecendo, logo ele começou a manqueijar lentamente até a direção do alto prédio que abrigara a luz.

    Outra vez o flash apareceu, derrubando mais um dos integrantes da multidão que ia na mesma direção que o rapaz. Estava confuso, um estranho medo possuía seu corpo e o fazia parar por alguns instantes e então a curiosidade voltava a tona e o forçava a andar novamente. Vários novos clarões foram aparecendo e a cada um destes clarões alguma pessoa caía no chão, morta.

    - "Que merda é essa? Tem alguém matando as pessoas!" - pensou.

    A chuva havia ficado mais forte, grandes jatos de água batiam no corpo dele, refrescando sua pele quente e seca. Seus lábios rachados, os olhos vermelhos e ardentes agora estavam sendo lentamente lubrificados. Enquanto andava ele pisou numa pedra com seu pé descalço, aquilo deveria doer e machucá-lo dolorosamente, pois a pedra perfurou sua pele e quase alojara-se em seu pé, por sorte não ocorreu, mas ele não sentiu dor. Não sentiu nada, apenas continou andando.

    Ele passou por um mercado totalmente revirado, as prateleiras estavam vazias e derrubadas e alguns pacotes de comida estavam abertos e rodeados por ratos e baratas. Olhou com certo desejo de consumir aqueles pacotes, mas, conseguiu controlar-se e evitar avançar como um louco na comida estragada e podre.

    O grupo de curiosos estava cada vez menor, mas, logo surgiram outros e outros, até que apareceram alguns que corriam enfurecidamente, eram verdadeiros loucos. Passavam por cima de carros apenas com saltos, sua pele estava caindo e os músculos começavam a ficar a mostra, eles gritavam e urravam alto amedrontando qualquer um, mas, não Alexander, não os curiosos...

    Um deles pulou na parede do prédio que vinham os clarões e começou a literalmente escalar as paredes, era apavorante. Seus dedos penetravam alguns centímetros o cimento e criavam buracos por onde cada um poderia passar futuramente, os pés serviam apenas de apoio rápido pois não causavam nenhum dano além de fornecer um pequeno impulso para cima. Pedaços de pedra caíam violentamente, espatifando-se no chão em vários pedaços. Por quê ele não era daquele jeito?

    Um raio iluminou todo o prédio e forneceu a visão de uma silhueta de uma pessoa segurando uma arma, não dava para ver que arma era, mas, era grande assim como seu cano. Ela apontava para baixo em direção aos loucos que escalavam as paredes, tremulava sob a pouca luz da lua que passava por entre as nuvens tempestuosas e mostrava mais clarões que derrubavam mais e mais escaladores. Eles agrupavam-se, até que a arma foi retirada do lugar, provavelmente quem a manuseava precisava recarregar, uma janela de vidro foi fechada impedindo que o espaço ficasse vazio e facilitasse a subida dos malditos. Eles continuavam subindo, derrubavam uns aos outros na esperança de que chegariam primeiro e poderiam deliciar-se sozinhos, eram egoístas...

    Um raio caiu próximo dos escaladores loucos e fez com que a maioria se assustasse e perdesse o equilíbrio, caindo no chão de maneira trágica. Eles deviam ser muito pesados, a queda de seus corpos chocando-se no piche do asfalto fazia com que grandes rachaduras surgissem.

    Aos poucos ele viu-se chegando a porta daquele prédio e movido pela curiosidade começou a bater com toda força que tinha nas grandes portas de madeira, eram duas grandes portas que mais pareciam de uma igreja. Alguns outros curiosos chegaram por trás e atacaram a porta juntos, não demoraria muito para que a mesma quebrasse. Os malditos escaladores continuavam subindo e tentavam quebrar a janela de vidro temperado, eles não conseguiam quebrar o vidro com tanta facilidade quanto o concreto...

    Quando surgiram as primeiras rachaduras foi possível ouvir gritos de desespero, aparentemente de uma mulher e logo que um dos curiosos estava prestes a dar o golpe final e destruir a janela, ela abriu-se e um disparo foi dado, lançando o escalador para longe. Sua cabeça inclinou-se para trás e o mesmo ficou pendurado pela sua mão, mas, logo os dedos fraquejaram e ele caiu carregando consigo outros que prosseguiam subindo.

    A porta quebrou. Empurrado pela montanha de pessoas atrás dele, ele caiu no chão e foi severamente pisoteado, suas costas pareciam estar sofrendo uma massagem mal feita, mas, normalmente ele aguentou e nada sentiu, assim como a pedra em seu pé. Quando a manada atravessou por cima dele, ele conseguiu levantar-se - meio cambaleante - do chão e começou a andar até as escadas e subir até o último andar para clamar por ajuda e por informação.

    A cada passo que ele dava os disparos ficavam mais altos e os barulhos iam ficando mais detalhados. Chegou a um ponto em que escutara o choro de uma criança, foi aí que uma pontada atingiu sua cabeça e ele lembrou-se de sua filha, Ângela, e sua esposa, Beatriz. Mesmo com tais lembranças passando por sua cabeça ele continuou subindo, sua mente estava focada em encontrar as pessoas ou coisas que resistiam lá em cima.

    Próximo do fim de sua pequena jornada ele encontrou uma porta e lá entrou para checar se alguém estava ali, mas, nada encontrou e então continuou subindo até chegar numa porta fechada. Atravessando aquela porta ele encontraria respostas para tudo o que estava acontecendo, não havia nenhum dos seus companheiros ali, o que o deixou confuso, mas, não o fez parar por nenhum segundo. Lentamente ele começou a bater na porta e com poucas pancadas ela começou a demonstrar sinais de que iria se romper. Seus ânimos estavam a flor da pele quando um buraco abriu, agora ele conseguia enxergar o que estava lá dentro: Uma menina e uma mulher. A menina deveria ter cerca de 10 anos, e a mulher poderia ter cerca de 27 anos.

    A criança gritou quando deu de encontro com o olhar do homem, mas, aquilo não o incomodou, sabia que estava assustada e com ele não seria diferente. Continuou batendo na porta até que ela despencou.

    - "Ei, o que está acontecendo?" - em sua cabeça ele tentou pronunciar aquilo, mas, tudo que saiu foi um curto e grosso "grak".
    - Mamãe! - a menina gritou.

    A mulher virou-se ligeiramente e deu de encontro com aquele monstro, uma figura desalmada, um demônio incorporado em um humano. Um zumbi. Ela havia disparado seu penúltimo tiro em um dos escaladores, e vários outros ainda subiam pela parede do prédio, mas, ela escolheu gastar a última bala com ele.

    Ele estendeu as mãos como sinal para que ela não fizesse nada, mas, assim que o fez a arma foi erguida, apontada para seu rosto e visualizando aquela cena ele lembrou de tudo que ocorrera até aquele momento fatídico no qual ele acordara no meio da rua. Sua memória havia sido ativada novamente e olhando diretamente para o cano daquela arma ele percebeu que não havia chance alguma de aguentar um único disparo que aquela mulher lhe presentearia. Seu nome era Alexander Gramas, tinha 34 anos e era caminhoneiro. Havia sobrevivido por três meses dentro de casa durante toda uma "guerra" que fora iniciada e quando os mortos voltaram a vida ele resistiu por mais um mês, mas, quando foi obrigado a sair de casa para buscar suprimentos para sua filha e esposa ele foi cercado e mordido. Não achou que estava infectado, mas, voltando para seu abrigo, uma igreja, ele sofreu com os efeitos da contaminação.

    Quando a mulher mirou fixamente para a cabeça de Alexander ela abaixou sua arma, percebera que aquele era o homem com quem havia casado e tido uma filha que os dois protegeram no apocalipse, mas, agora ela tinha a triste notícia de que seu marido, seu conforto, estava transformado. Lágrimas percorriam seu rosto e quando ele viu aquela mulher chorando, lembrou-se do rosto de sua filha e de sua esposa. Ali estava ele, de cara com as duas...

    - "Tudo vai ficar bem." - tentou gesticular ao máximo que pôde, mas, a única coisa que saía de sua boca era um ruído agressivo parecido com um rosnado. "Merda.", pensou.

    Beatriz levantou sua arma e apontou para Alexander, percebeu que aquele era seu destino, seu infortúnio, seu último momento em "vida", naquele segundo que se seguira um disparo foi feito e atingira precisamente seu olho direito. Sem forças e totalmente morto, Alexander caiu de joelhos no chão e ficou naquela posição por alguns segundos e enquanto caía falecido no chão uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo. Ele usava um boné e ao cair este saiu de sua cabeça, dando a mostrar um pequeno papel amassado. Beatriz apanhou-o e o abriu, o que seria aquilo?

    No papel estava escrito na letra de Alexander:

    "Fui mordido, acho que contaminado... Não se preocupe, Bia, tudo ficará bem, eu vou voltar e vou cumprir minha promessa: Seja vivo ou morto, eu voltarei."

    Ele cumpriu sua promessa.
    Gramamas
    Gramamas
    Admin
    Admin


    Mensagens : 41
    Reputação : 0
    Data de inscrição : 14/12/2012
    Idade : 31
    Localização : Atrás de você

    [Conto] A Promessa Empty Re: [Conto] A Promessa

    Mensagem por Gramamas 19/12/12, 08:57 pm

    Eu gostei desse estilo de Fanfic, ficou bem interessante que você tenha usado o famoso "outro lado da moeda".
    Lemon
    Lemon
    Membro
    Membro


    Mensagens : 27
    Reputação : 0
    Data de inscrição : 25/12/2012
    Idade : 25

    [Conto] A Promessa Empty Re: [Conto] A Promessa

    Mensagem por Lemon 25/12/12, 03:37 pm

    Eu gostei muito da história, pena que é um conto! Vc tem talento Piettro acho que deveria se aprofudar mais no assunto. Smile

    Conteúdo patrocinado


    [Conto] A Promessa Empty Re: [Conto] A Promessa

    Mensagem por Conteúdo patrocinado


      Data/hora atual: 29/04/24, 12:34 am